domingo, 28 de março de 2010

SKETCH: Flash Interview no Congresso do PSD



Argumento:


Diana Mendonça
Nuno Porfírio
Ricardo Guedes



Personagens:


Jornalista
Militante do PSD 1 (Simões da Silva)
Militante do PSD 2 (Martins Rodrigues)
Militante do PSD 3 (Eng. Lopes da Costa)




int. Frente a placard do psd

Um JORNALISTA encontra-se de frente para a câmara, à espera que lhe seja dado sinal para entrar no ar. Passam poucos segundos e inicia a sua reportagem.

jornalista
(para a câmara) Estamos aqui no Pavilhão Ministro dos Santos, em Mafra, onde terminou há pouco o 32º congresso do PSD, que antecede as eleições directas à liderança do partido, já no próximo dia 26. Neste momento aguardamos a passagem de Simões da Silva, considerado por muitos como o vencedor dos dois dias que durou o encontro laranja.

SIMÕES DA SILVA aproxima-se e o jornalista encaminha-o para junto de si de forma a ficarem ambos enquadradados na imagem. Simões da Silva veste fato escuro completo, traz o cabelo molhado e uma toalha branca ao pescoço. Durante a entrevista vai dando goles numa bebida isotónica.


JORNALISTA
Qual é a primeira análise que faz deste congresso?

Simões da Silva fala em tom cansado mas vitorioso.


SIMÕES DA SILVA
Bem, apesar de tudo eu penso que correu com serenidade, no entanto no meu melhor período de discurso cortaram-me o ataque dizendo que estava a ultrapassar o limite de tempo... Eu gosto de fazer jogo limpo, com serenidade, mas penso que, vá, foi um bom congresso.

JORNalista
Está satisfeito então com a sua participação?

simões da silva
(convicto) Eu penso que demonstrei atitude, e serenidade, lutámos até ao fim pelo nosso objectivo, e, claramente, vencemos. Vencemos com serenidade.

jornalista
Mas houve ali um período em que as ideias que defendeu foram fortemente contestadas...

SIMões da silva
(hesita um pouco mas depois fala com determinação) Houve uma altura em que o adversário conseguiu ser mais forte, tinha mais convicção, mas nós, com a nossa serenidade, conseguimos inverter essa situação, jogámos em grupo, somos uma equipa, trabalhámos com serenidade toda a semana para isto, e agora já só pensamos no próximo congresso. Com serenidade.

Simões da Silva prossegue caminho, afastando-se e dando como terminada a entrevista.


JORNALISTA
(para a câmara) Foram as palavras de Simões da Silva...

Aproxima-se MARTINS RODRIGUES, de fato escuro completo e boné laranja com o logótipo do PSD. O jornalista aborda-o de imediato.


JORNalista
Martins Rodrigues, no rescaldo deste congresso, que comentários tem a tecer à estratégia dos seus adversários, candidatos igualmente à liderança do partido?

Martins Rodrigues fala em tom notoriamente revoltado.


martins rodrigues
Tu quando vens para aqui, tens que vir bem preparado, e os meus adversários não estavam à altura. Aquele tipo de abordagem é uma vergonha. Houve situações, claramente, de anti-política. Vêm para cá com bandeirinhas laranjas e levantam-nas por dá cá aquela palha, e tu vês logo que são atitudes de quem está a pôr a política deste país no estado em que está!

jornalista
(em tom calmo que contrasta com o do entrevistado) Parece também que decorreram alguns desentendimentos nos corredores de saída do auditório...

martins rodrigues
(exaltado) Desentendimentos? Quais desentendimentos? Tu vais no corredor e tu não te apercebes de nada. Num congresso destes há sempre muita gente. Tu não sabes quem é quem. Tu estás ali, a autografar a gravata para dares a um jovem militante e tu não vês nada. Tu não vês nada.

jornalista
(insiste) Mas há outros militantes que o colocam no cenário da discorda...

Martins Rodrigues exalta-se.


martins rodrigues
(em tom agressivo) Mas quem são esses militantes? Você sabe? Se sabe diga-me, se não sabe cale-se. Está a chamar-me mentiroso? Tu vens para fazer o teu trabalho e há sempre estas coisas pá!

jornalista
(muda de tema sempre em tom calmo) Correm também rumores de que existem outros partidos políticos interessados na sua afiliação...

Martins Rodrigues acalma-se.


martins rodrigues
Tu nunca sabes, tu nestas coisas és sempre o último a saber. Se há, se não há, tu não sabes. Mas se se manifesta interesse da outra parte é porque tu és bom e tu tens valor. É porque tu trabalhas para isso. E isso é positivo.

O jornalista agradece terminando a entrevista.


jornalista
(fala para o entrevistado) Martins Rodrigues, muito obrigado pelas suas declarações. (fala para a câmara) Foram as palavras do segundo candidato às eleições directas de dia 26. (desvia o olhar da câmara, para o lado). Aproxima-se agora o Eng. Lopes da Costa, vamos tentar conversar com...

Martim Rodrigues afasta-se. Passa LOPES DA COSTA que é de imediato abordado pelo jornalista. Lopes da Costa veste fato completo com os primeiros botões da camisa desapertados e o nó da gravata solto.


jornalista
Eng. Lopes da Costa, se nos puder dispensar aqui um minuto de conversa...

Lopes da Costa vem revoltado e fala em tom brusco.

lopes da costa
Diga lá, o que foi?


O jornalista prossegue no mesmo registo das entrevistas anteriores.

jornalista
Podemos dizer que o Sr. Engenheiro não esteve nos seus melhores dias...

lopes da costa
(em tom assertivo) O Lopes não concorda. O Lopes demonstrou empenho, teve foi azar. Ainda para mais o Lopes ficou colocado no pior ângulo do auditório. Ficou colocado numa posição que não é a sua. Toda a gente sabe que o Lopes só se dá bem à direita.

jornalista
Bom, mas isso não justifica o facto de ter sido expulso do congresso...

lopes da costa
Essa situação não só é uma injustiça, como também foi uma vergonha. Toda a gente sabe que o Lopes foi expulso devido a duas faltas...


O jornalista interrompe-o.

jornalista
Duas faltas?

lopes da costa
Uma falta de respeito e uma falta de coerência. Foi isso. O Lopes foi injustiçado. Dizem que o Lopes foi expulso porque tirou a gravata, mas ninguém tinha explicado ao Lopes que tirar a gravata duas vezes dá direito a expulsão. O Lopes não esteve bem. Mas o que o Lopes tem a dizer é que não tirou a gravata duas vezes. A primeira tirou, sim senhor, e o Lopes está aqui e admite. Mas a segunda apenas alargou o nó. Logo o Lopes não deveria ter sido expulso. Mas eles andam aqui e não vêem nada. O Lopes viu outros militantes a tirar a gravata e aí ninguém se mexeu. E o Lopes só não diz mais para não correr o risco de ficar castigado nos próximos três ou quatro congressos. Por isso, a partir de agora, e para evitar mais polémicas, o Lopes entra em blackout.


Lopes da Costa despede-se em tom firme, sem dar hipótese de mais perguntas.

lopes da costa
Muito obrigado. Boa noite.


Lopes da Costa afasta-se. O jornalista volta-se para a câmara e fala para os espectadores.

jornalista
Foram as palavras do Eng. Lopes da Costa, no final do congresso extraordinário do PSD, aqui em Mafra. A postos para seguir este especial está já um painel de comentadores políticos que dará início à análise deste encontro. Passo então a emissão para o estúdio.

terça-feira, 9 de março de 2010

AFONSO LAIRES

storyline e perfil de Maria Inês Fernandes

IDEIA ou STORY LINE
Meio ano sabático à força. Um trintão que vai para África para esquecer uma mulher.
Cinco meses cheio de peripécias, onde nada corre como planeado.


Afonso Laires

Lado Físico
Alto (1.82m) Loiro, com muito cabelo mas curto.
Olhos verdes, ficam mais escuros no inverno.
Tem 31 anos, veste-se normalmente para um homem da sua idade, mas trás sempre um pormenor de moda.
Não é gordo, nem magro, tem as pernas fininhas mas o tronco é largo.
Anda sempre bastante direito. Junta as mãos quando fala e geralmente olha para elas.
Mexe bastante no cabelo Lado psicológico – Isso transtorna-o por vezes dependendo da conversa.
Respira essencialmente pela boca, por isso tem-na sempre ligeiramente aberta.

Lado psicológico
È filho único, até aos 15 anos queria ter irmãos, agora acredita que foi melhor assim.
O Afonso é um pensador, escreve muito e escreve bem.
É profundo, existencialista mas tem sentido de humor. É inteligente, um pouco elitista. É um vaidoso disfarçado, há quem diga que com razão.
Gosta de achar que sabe ser solitário mas não sabe. Não gosta de estar sozinho.
É ansioso, tem consciência disso, procura métodos concretos para obter paz de espírito. Praticou yoga, estudou música.
Apaixona-se facilmente pelas pessoas e pelas coisas e geralmente é correspondido.

Lado social
Licenciou-se em engenharia química, e é mestre em Biotecnologia.
Sempre viveu perto da praia. Até ao secundário estudou em colégios, mas frequentou a Universidade Publica.
Tem um grupo pequeno de amigos. O Tiago – engenheiro electrotécnico, o seu melhor amigo. A Diana que vive no mesmo prédio, estudou direito criminal e exerce.

Afonso trabalha numa empresa internacional onde é consultor para o departamento de marketing de um grupo farmacêutico.
Desde há um ano que não sai muito à noite, gosta de ir a concertos com os amigos. Organiza jantares em casa, geralmente temáticos. Adora comer/experimentar pratos exóticos, e ficar na mesa até tarde a conversar e a beber vinho.
Gosta de conversar, mas prefere sentir que está a ser ouvido.

Perfil de Maria do Amparo

55 anos. Casada, dois filhos. Lisboeta de Alfama.
A mãe, peixeira no Mercado da Ribeira, acreditava piamente que tinha “parido” - palavras suas - a versão loura da Madalena Iglésias. Enquanto menina era senhora de uma voz inconfundível, apenas comparável à sua beleza rara, exótica para a época e, acima de tudo, para o local. Uma loura de olhos azuis não se encontra em todas as esquinas de Alfama. Do pai, sabia apenas que andava embarcado até à altura do seu nascimento, o que tornava estranho o momento da fecundação.
Infelizmente, os anos não foram tão meigos como os pregões de sua mãe. Maria do Amparo é agora uma mulher robusta, de rugas profundas e amarga. Dir-se-ia zangada com a vida.
É doméstica - “com muito orgulho!” - e às segundas, quartas e sextas faz limpezas em quatro apartamentos das redondezas. Num deles, o do Sr. Coronel da Marinha, desvia pequenas quantidades de whiskey que, oportunamente, bebe ali mesmo. Nos outros, trabalha para jovens – dois deles estrangeiros – que procuram viver o sonho da Lisboa típica. Para Maria do Amparo, não passam de uns “porcos fornicadores que vieram encher o bairro de carros caros e mulheres baratas”. A sua veia poética é proporcional ao seu talento para o diz-que-disse. Se alguém tem algo para contar àquele bocado de Lisboa, deve partilhá-lo com Maria do Amparo. Entre ela e o marido, Acácio de Jesus, porteiro de um prédio de escritórios nas Avenidas Novas, dominam a informação das ruas.
Não é, pois, de estranhar, que quando todos aqueles crimes começaram a acontecer, a polícia tenha recorrido ao seus serviços.

João Nunes Coelho

Exercício da campanha fictícia para uma ideia/conceito nascido em aula

por Isabel Rocha, Susana Rodrigues Alves e Catarina Ribeiro
Ideia:
“A vida é bela das profissões” – Catarina Ribeiro

A campanha consiste em divulgar um serviço em que qualquer indíviduo (maior de idade) pode, por um dia, comprar um voucher que lhe dará acesso a uma profissão diferente da sua.

O slogan da campanha:

“VIDA DUPLA. Porque uma só não chega!”

Este slogan seria a frase dominante em todos os anúncios, independentemente do meio.

Campanha TV:

Série de anúncios que mostravam pessoas a passar de uma profissão para outra totalmente distinta:

Ex: Agricultora, vestida de forma rural, de lenço na cabeça e buço, que aparece de seguida com um fato de banho de nadadora salvadora, fisicamente interessante e provocadora, a correr pela praia cheia de estilo;
Professora que acaba de dar aulas e, após os alunos sairem da sala, calça as meias de liga e pega em acessórios exóticos, preparando-se para ser stripper
Médica que tira a bata, sai do escritório e entra num táxi, mas para conduzi-lo.

Outdoors, Flyers, Mupies:
Vários anúncios com conceito semelhante ao da campanha TV, em que apareceriam pessoas, metade representando uma profissão e a outra metade representando a outra, preferencialmente opostos.

Campanha Imprensa escrita:
Anúncios nos classificados dos jornais, com o título “PROCURA-SE … por um dia”.

Dentro desta abordagem da nossa campanha, em meios sem possibilidade de usar a imagem, usaríamos o texto:

“O que quer ser quando for grande?
Sempre sonhou ser médico mas faltou-lhe uma décima?
Toda a vida pensou ser stripper mas não tinha varão?
Seja o que quiser por um dia.
VIDA DUPLA. Porque uma só não chega”

JANINE, a Jane Doe do momento

perfil por Susana Rodrigues Alves
37 anos, nascida na tarde de 8 de Março de 1973. Verdadeiro nome no bilhete de Identidade: Maria do Rosário Francisco da Costa. 1.65m, 53 kgs bem distribuídos, silicone mamário colocado há 3 anos por alturas do mês de Março, tratamento de rejuvenescimento com botox nos lábios, sobrancelhas e área externa dos olhos há 6 meses, prepara-se para repetir a sessão de injecções. Cabelo curto, bastante descolorado e com franja para o lado esquerdo. Unhas sempre arranjadas, preferencialmente em tons de “sangue de boi” e rosa seco. Sinal de nascença em forma de trevo, de cor rosada, na omoplata esquerda. Tatuagem no tornozelo esquerdo também – fada pequena, discreta, rodeada de 7 estrelas mínimas (sendo o 7 o número da sorte de Janine), feita em Sintra no dia dos seus 25 anos (dia em que tomou ainda a decisão de parar de fumar, actividade esta que mantinha desde os 16). Ser anti-fumo é ainda um dos lemas de vida e mote que passa aos amigos sempre que encontra oportunidade.
Medicada com ritalina por sofrer de Síndroma de Tourette desde a adolescência, o que já a levou à cadeia por um período de 17 horas por ter, inadvertidamente, insultado um negro num centro comercial. É triste, depressiva e desanimada com a vida desde que percebeu que o seu quotidiano estagnou nos últimos anos. Abomina o marasmo e procura continuamente novas emoções. Faz alergia a manteiga de amendoim e sofre ainda de favismo, doença rara no sexo feminino mas que leva o portador a desenvolver uma crise hemolítica em casos extremos.
Profissão: administrativa na junta de freguesia de Massarelos há 16 anos. Casada em segundas núpcias e comunhão de bens com José Penalva de Aguiar da Costa, que a venera e a quem está a organizar desde há 3 meses e meio a festa de comemoração do quinquagésimo aniversário, que terá lugar dentro de 2 semanas. Sem filhos, devido a questão de infertilidade dele, descoberta já depois do casamento efectivado. Sem filhos também do primeiro marido, do qual se divorciou e que, entretanto, faleceu.
Escolaridade: 12º ano do antigo curso comercial. Formação adicional: estenografia, dactilografia e cozinha prática.
Nas horas vagas (e, por vezes, durante o horário de expediente, à sucapa), revendedora da Avon e da Tuppersex, a cujas reuniões assiste aos sábados de manhã e terças à noite de forma religiosa. Consta-se que é adepta fervorosa do uso de apetrechos sexuais e viu-se referida num escândalo envolvendo um dos vogais da junta de freguesia, um par de algemas almofadadas em pelúcia cor-de-rosa, vestuário pouco apropriado a uma dona-de-casa respeitável e uma máquina fotográfica manipulada por um desconhecido. Consequentemente, viu-se o marido na necessidade de desembolsar cinco mil euros para evitar que tais provas do crime fossem parar ao facebook. Depois de discutido entre ambos, o assunto ficou “esquecido” por acordo mútuo e em nome da imagem de um casamento sólido a manter socialmente.
Dilema do momento: abandonar o emprego na junta e candidatar-se ao curso de Formação de Locutores e Apresentadores na Universidade Lusófona em Lisboa, acalentando o sonho de miúda de ser estrela do prime-time televisivo nacional e de vir – pelo menos de segunda a quinta-feira – viver para a capital onde tudo acontece.
OU
Dilema do momento: na clínica de São Lucas, onde faz tratamento contra depressão diagnosticada recentemente, encontra Júlio Pereira Sarmento, médico anestesista destacado do Hospital de S. Francisco no Porto, e seu amigo de infância. Não sabe se há-de de uma vez sair de casa, deixando o marido e o emprego na junta de freguesia, mas calcula-se que seja esse o seu destino. Depois de um discreto e fugaz, embora por demais intenso, relacionamento entre ambos, que a fez sentir renascida das cinzas, descobre que está grávida e pondera aborto.

Bruno, ex-agente do FBI

perfil por Elisabete Moreira

Características psicológicas:
Homem de poucas palavras e introvertido. Extremamente observador, óptima memória, perfeccionista, meticuloso e organizado. Sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Amargurado, nostálgico e sente-se um fracassado. Por baixo desta camada, está um coração grande e um homem que sonha com o seu passado feliz.

Características físicas
45 anos, 1.78, pele morena mas gasta, cabelo grisalho, olhos escuros penetrantes, aspecto cansado, rugas de expressão. Em boa forma física.
Caracteristicas sociais
Formação de nível superior, com vasto know-how em criminologia e psicologia criminal. Classe social alta, proveniente do seu estatuto profissional. Não é visto em ambientes socias desde que ficou desempregado. Vive isolado e para si mesmo. Prefere o ambiente nocturno. Tem apenas um grande amigo mas que tende a afastar por não querer comprometê-lo. Divorciado. Tem uma filha que venera de longe pois não consegue aproximar-se dela. Outrora foi um pai, amigo, marido, profissional extremoso.

Depois de ter sido despedido, opta por usar o seu dom a favor do crime. É perito em alterar cenários/situações de crime de modo a esconder a verdade.
Homicidios passam a suicidios, a acidentes ou legítima defesa, mortes naturais passam a homícidio por negligência ou a crime perfeito....culpados passam a inocentes. Tudo isto, vice-versa. Acaba sempre por beneficiar o criminoso porque é sempre contactado por culpados que querem passar a inocentes ou culpar alguém.
Até ao dia em que é apanhado numa armadilha e é dado como o culpado de um crime que não cometeu.

Um Dia de Cada Vez

exercício da campanha publicitária fictícia, a partir de conceitos surgidos na aula anterior - ideia: VIDA DUPLA: 'porque uma só não chega' (de Catarina Ribeiro) - equipa de autores: Diana Mendonça, Nuno Porfírio e Ricardo Guedes

SPOT TV
Arranje o motor, venda o carro, faça a estrada, cobre a portagem, transporte a água, apague o fogo, cuide dos feridos, faça a reportagem, comunique a notícia, imprima o jornal. Uma vida. Todas as profissões.
Volte a ser criança. Escolha o que quer ser.

SPOT RÁDIO
Não entra às 8 porque só abrimos às 10h. Se chegar atrasado não reclamamos. Se apanhar trânsito nós desculpamos. Não o despedimos porque não o contratamos.
Um dia. Uma profissão. Escolha a sua.

MUPIS
Não cresça sem escolher a sua profissão.
Quando for grande, o que é que quer ser?
Deixou de ser pequenino mas não deixou de sonhar.

ACÇÕES DE RUA
Faculdades, liceus

INTERNET
Venda online (compras impulsivas depois de um dia de trabalho), testemunhos de compradores, teste online de carácter e personalidade (ex. modos de resolver um problema, maneiras de lidar com o stress, modo como encara a vida, etc.)
NOTA:
Vida Dupla é uma empresa que vende experiências (como A Vida é Bela ou Odisseias), só que a experiência em questão é experimentar - por um dia - outra profissão.

CAMPANHA PUBLICITÁRIA FICTÍCIA

por Elisabete Moreira, Patrícia Freitas e João Nunes Coelho
Target
18 – 99 anos

Homens e mulheres – hetero e homossexuais
Pessoas com pouca disponibilidade para as relações sociais;
Pessoas com dificuldades em relacionamentos interpessoais
Casais com pouca disponibilidade para dedicar à relação
Casais que pretendem investir/fortalecer a relação
Classe A, B, C

Comunicação
Meios
Imprensa especializada
Outdoors/mupies
Redes sociais/internet
Acções de rua –marketing de guerrilha
Site
Tendo em conta a natureza do serviço sugere-se a criação de um site que funcione como pivot não só do serviço como também da comunicação. Ao aceder ao site, o utilizador é convidado a fazer um quizz que vai definir o seu perfil ajudando posteriormente a fazer o match com outros utilizadores.

Imprensa e Outdoors
Pode começar a escolher as damas-de-honor
Entre marido e mulher vamos meter a colher
Encalhados são os barcos.
Tenha as mil e UMA noite(s).

Assinatura de marca
Love Styles. Qual é seu?

Acções de rua –marketing de guerrilha
Distribuição de flyers por uma equipa de promotores que acompanha o Cupido que agora está desempregado.
O Cupido pede esmola no metro
Cupido como sem abrigo
Cupido a estacionar carros
Cupido nos semaforos a lavar os vidros

Festa de Lançamento
Para solteiros e comprometidos. Aos solteiros disponíveis para relacionamento é dada uma pulseira do tipo de relação pretendida. Presença de imprensa especializada e vipes.

A ilha dos homens de coração cheio.


Exercício da inspiração em quatro fotos de Brayan, cubano, em Havana. Escolher uma e, sob pressão, escrever um texto do qual não constasse uma única vez a palavrinha maldita: 'que'.


Era como assistir ao genérico de um filme de gringos. Ali estavam eles, em silêncio, observando a ilha a ficar irremediavelmente mais distante, levando com ela as poucas coisas cuja propriedade podiam reclamar. O chão debaixo dos pés era agora o seu maior pertence. Tinham-se uns aos outros, claro, mas isso era algo com o qual sempre contaram. Desde tenra idade, era aquela a sua família. Quatro irmãos cuja necessidade de se tornarem, ora mãe, ora pai, era ditada pelas circunstâncias. Circunstâncias estranhas, aquelas cujo epílogo pareciam estar agora a viver. E o prólogo? Na verdade, nenhum deles sabia ao certo qual a origem daquele acontecimento. Certa parecia ser a inevitabilidade daquela situação. Certo seria concluir onde estaria, uma vez mais, o seu destino. Felizmente tinham-se uns aos outros e, apesar de não saberem onde, nem como tudo aquilo iria terminar, sabiam: o seu destino estava prestes a ser escrito. A oito mãos, como sempre.

João Nunes Coelho

Multidão numa ilha

Somos cinco mas representamos milhões.

Em cima desta pedra - ilha na maré cheia – situamo-nos entre duas perspectivas visuais, paisagísticas e realmente díspares. De um lado o horizonte aberto e livre, do outro lado o quintal-prisão semeado de edifícios altos.

Virados para o oceano enxergamos toda a felicidade ao alcance da nossa imaginação e/ou do nosso desejo.

Dirigindo os nossos olhares para terra sentimo-nos espezinhados pelo cimento-dinheiro invasor de um espaço anteriormente livre.

Cada um de nós reconhece-se como um ligado a milhões nas mesmas circunstâncias.

Aqui e agora nesta pedra somos cinco.

Para nós é ténue, quase inexistente, a linha de separação, lá bem longe, entre o mar e o céu. Para nós o mar abre-nos caminhos para um futuro melhor.

Para os habitantes dos blocos de cimento achamos esta mesma linha tornar-se bem nítida.

Sim, não nos aflora a mínima dúvida. Eles necessitam de marcar territórios, de marcar casas, de marcar automóveis, de marcar escolas, de marcar vestuário. Eles precisam de marcas para se demarcarem dos outros. Por isso não interessa o montante investido em produtos de “marca”. Para eles o verbo é investir na proporção directa de vermos, nós – os da ilha – o verbo gastar empobrecer-nos.

E assim vai ficando tudo demarcado. As marcas do luxo e do poder restam demarcadas pelos condomínios fechados.

Os nossos gritos de desespero vislumbram a esperança de salvação pela ausência de muros, de portões e até de portas nos caixotes de pedra alinhados sob as designações de marca “musseque” ou marca “favela”.

Nos intervalos de trabalho ou na sua ausência, em vez de subjugar-nos aos entretenimentos embriagantes, corremos até esta pedra. Sempre na ânsia sonhada dela se desenraizar e ir à garra por aí fora. Rumo ao infinito, rumo ao céu, rumo a uma vida, seja ela qual for, de liberdade.

Quando a maré vazia atinge o seu apogeu, arrastamo-nos em direcção ao pedaço de cidade superiormente designada “civilização”.

Somos cinco aqui, talvez milhões em todo o planeta Terra.

Francisco Queiroz

A ilha do tesouro

Se o relógio da vida for o mar, será o cuco o seu tesouro e a pilha serás tu. Corremos sempre em busca de um desconhecido, por ansiarmos encontrar nele um bilhete para uma próxima viagem. Teremos de saber romper barreiras, quebrar regras, furar obstáculos. Seremos sempre maiores quanto mais longe quisermos ir. Quanto mais alto quisermos estar. Quanto mais profundos tentarmos ser. Nunca seremos tanto quanto queremos. Mas seremos sempre mais. Não há perfeição sem coragem. Não há sorriso sem sofrimento. Não há crescimento sem lágrimas.

Rui Pires

La Habana



O mundo dorme no seu próprio ego.

Ninguém sabe, mas eu vejo, eu sinto,

Estou aqui e junto as peças deste lego.

A liberdade está ali dentro dele e eu pinto

A tinta iletrada de tudo e nada,

De um mundo pobre de bolso,

De um mundo rico de espírito e fachada.

Mas admiro o esforço.

A vida lá fora é medonha: ruas pobres e imundas.

Transpiro o cheiro, a sede de mais dos demais transeuntes

desta vila do mundo para o mundo.

Tudo fica confuso.

é transparente e azul

como o céu do sul.

Por outro lado é escuro, puro.

É liberdade fechada

Imprópria para consumo.

E acendo mais um e fumo.

Salta. Salta todas as vezes necessárias.

Se me deixares eu salto contigo

De Havana tu és filho

Porque a vida é um sarilho .

Ana Lucas

O voador herói

Quando um sentimento de liberdade o assombra, o salto, o voar faz, obrigatoriamente, parte do seu dia. Quando o Homem se tornou invencível, nem mesmo a força da gravidade o parou.

É num dia de sol, num dia onde toda a paisagem é visível e a nossa melhor companhia é mesmo o melhor amigo do Homem, nada como pegar no corpo, na mente e no espírito e voar, voar bem alto e acompanhar as turbinas, chegar lá a cima e cair de cabeça, sem pensar no amanhã, com a ajuda de um pára-quedas cheio de cores, alegrando aqueles três minutos de adrenalina pura. Voar, simplesmente, de uma pedra até à água, voar daquela, vertiginosa, altura de um palmo, mas voar.

Sentir liberdade, ter alguém à nossa espera na altura da aterragem, abrir um sorriso e soltar uma gargalhada é quase a previsão do dia de ter um filho.

Um salto para o mar faz do Homem e do animal seres completos, seres dos três elementos principais, Terra, Água, Ar. Um ser completo como um herói de banda desenhada, o herói do imaginário de todos.

Inês Jerónimo

Este é o meu mundo



Ficámos ali, presos na nossa imaginação. Presos num género de viagem planeada. Ganhámos coragem numa história que já era antiga. Querem ouvir? Tal como todos os miúdos da nossa idade, quando havia uma ponta de sol, corríamos em direcção ao Malecón. Entre brincadeiras, corridas, jogos de futebol, de vez em quando parávamos e ficávamos ali a olhar para aquela rocha. Para aquele lugar onde queríamos chegar mas por falta de vontade ou de pura preguiça (típica da nossa idade) desviávamos o olhar. Arrastavam-se os dias e acabávamos sempre por desviar o olhar. Dias e dias seguidos. De dias passaram a anos. Um dia iríamos olhar para aquele lugar de uma forma diferente. Um dia a indiferença iria passar a certeza. Um dia íamos até lá. Esse dia é hoje. Estamos aqui sentados numa calma que parece ser só nossa. A olhar para o outro lado. A ver quem passa e ninguém nos vê a nós. Porquê? Porque se calhar não têm tempo. Porque se calhar hoje não há miúdos a brincarem do outro lado. Porque se calhar isto é tudo uma questão de olhar e hoje já não se olha. Só se passam os olhos. É o mundo de hoje. Um mundo que para nós hoje é este pedaço de rocha. Um mundo que eu descobri. Um mundo onde eu quero voltar. Este é o meu mundo.

Inês Carranca

quarta-feira, 3 de março de 2010

O voador herói

Quando um sentimento de liberdade o assombra, o salto, o voar faz, obrigatoriamente, parte do seu dia. Quando o Homem se tornou invencível nem mesmo a força da gravidade o parou.
É num dia de sol, num dia onde toda a paisagem é visível e a nossa melhor companhia é mesmo o melhor amigo do Homem, nada como pegar no corpo, na mente e no espírito e voar, voar bem alto e acompanhar as turbinas, chegar lá acima e cair de cabeça, sem pensar no amanhã, com a ajuda de um pára-quedas cheio de cores, alegrando aqueles três minutos de adrenalina pura. Voar, simplesmente, de uma pedra até à água, voar daquela, vertiginosa, altura de um palmo, mas voar.
Sentir liberdade, ter alguém à nossa espera na altura da aterragem, abrir um sorriso e soltar uma gargalhada é quase a previsão do dia de ter um filho.
Um salto para o mar faz do Homem e do animal seres completos, seres dos três elementos principais, Terra, Água, Ar. Um ser completo como um herói de banda desenhada, o herói do imaginário de todos.

Inês Jerónimo

HAVANA



O mundo dorme no seu próprio ego.
Ninguém sabe, mas eu vejo, eu sinto,
Estou aqui e junto as peças deste lego.
A liberdade está ali dentro dele e eu pinto
A tinta iletrada de tudo e nada,
De um mundo pobre de bolso,
De um mundo rico de espírito e fachada.
Mas admiro o esforço.
A vida lá fora é medonha: ruas pobres e imundas.

Transpiro o cheiro, a sede de mais dos demais transeuntes
desta vila do mundo para o mundo.
Tudo fica confuso.
é transparente e azul
como o céu do sul.
Por outro lado é escuro, puro.
É liberdade fechada
Imprópria para consumo.

E acendo mais um e fumo.

Salta. Salta todas as vezes necessárias.
Se me deixares eu salto contigo
De Havana tu és filho
Porque a vida é um sarilho.


Ana Lucas

A ilha dos homens de coração cheio.



Era como assistir ao genérico de um filme de gringos. Ali estavam eles, em silêncio, observando a ilha a ficar irremediavelmente mais distante, levando com ela as poucas coisas cuja propriedade podiam reclamar. O chão debaixo dos pés era agora o seu maior pertence. Tinham-se uns aos outros, claro, mas isso era algo com o qual sempre contaram. Desde tenra idade, era aquela a sua família. Quatro irmãos cuja necessidade de se tornarem, ora mãe, ora pai, era ditada pelas circunstâncias. Circunstâncias estranhas, aquelas cujo epílogo pareciam estar agora a viver. E o prólogo? Na verdade, nenhum deles sabia ao certo qual a origem daquele acontecimento. Certa parecia ser a inevitabilidade daquela situação. Certo seria concluir onde estaria, uma vez mais, o seu destino. Felizmente tinham-se uns aos outros e, apesar de não saberem onde, nem como tudo aquilo iria terminar, sabiam que o seu destino estava prestes a ser escrito. A oito mãos, como sempre.

João Nunes Coelho

Multidão numa ilha




Somos cinco mas representamos milhões.

Em cima desta pedra - ilha na maré cheia – situamo-nos entre duas perspectivas visuais, paisagísticas e realmente díspares. De um lado o horizonte aberto e livre, do outro lado o quintal-prisão semeado de edifícios altos.
Virados para o oceano enxergamos toda a felicidade ao alcance da nossa imaginação e/ou do nosso desejo.
Dirigindo os nossos olhares para terra sentimo-nos espezinhados pelo cimento-dinheiro invasor de um espaço anteriormente livre.
Cada um de nós reconhece-se como um ligado a milhões nas mesmas circunstâncias.
Aqui e agora nesta pedra somos cinco.
Para nós é ténue, quase inexistente, a linha de separação, lá bem longe, entre o mar e o céu. Para nós o mar abre-nos caminhos para um futuro melhor.
Para os habitantes dos blocos de cimento achamos esta mesma linha tornar-se bem nítida.
Sim, não nos aflora a mínima dúvida. Eles necessitam de marcar territórios, de marcar casas, de marcar automóveis, de marcar escolas, de marcar vestuário. Eles precisam de marcas para se demarcarem dos outros. Por isso não interessa o montante investido em produtos de “marca”. Para eles o verbo é investir na proporção directa de vermos, nós – os da ilha – o verbo gastar empobrecer-nos.
E assim vai ficando tudo demarcado. As marcas do luxo e do poder restam demarcadas pelos condomínios fechados.
Os nossos gritos de desespero vislumbram a esperança de salvação pela ausência de muros, de portões e até de portas nos caixotes de pedra alinhados sob as designações de marca “musseque” ou marca “favela”.

Nos intervalos de trabalho ou na sua ausência, em vez de subjugar-nos aos entretenimentos embriagantes, corremos até esta pedra. Sempre na ânsia sonhada dela se desenraizar e ir à garra por aí fora. Rumo ao infinito, rumo ao céu, rumo a uma vida, seja ela qual for, de liberdade.
Quando a maré vazia atinge o seu apogeu, arrastamo-nos em direcção ao pedaço de cidade superiormente designada “civilização”.
Somos cinco aqui, talvez milhões em todo o planeta Terra.

Francisco de Pina Queiroz

A ilha do tesouro

exercício: 4 fotos tiradas em Havana por Brayan, um fotógrafo cubano, foram expostas perante a turma. Tinham meia hora para escrever um texto inspirado por uma delas (inspiração versus transpiração) e este - no registo que quisessem - não poderia incluir essa palavrinha maldita, muleta sacana, precisamente o 'que'.
Se o relógio da vida for o mar, será o cuco o seu tesouro e a pilha serás tu. Corremos sempre em busca de um desconhecido, por ansiarmos encontrar nele um bilhete para uma próxima viagem. Teremos de saber romper barreiras, quebrar regras, furar obstáculos. Seremos sempre maiores quanto mais longe quisermos ir. Quanto mais alto quisermos estar. Quanto mais profundos tentarmos ser. Nunca seremos tanto quanto queremos. Mas seremos sempre mais. Não há perfeição sem coragem. Não há sorriso sem sofrimento. Não há crescimento sem lágrimas.

Rui Pires

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O génio que jogava futebol



O Zé é um rapaz fofo que vive feliz da vida com as suas bolas de futebol. É dos poucos que ainda brinca na rua, ainda se suja e corre e faz trinta por uma linha.
Quando, um dia, o Zé chega a casa todo sujo a mãe, pela primeira vez, grita e diz:
- Vai tomar banho e depois não te esqueças: fazer os trabalhos, tens de escrever tudo perfeitinho.
Depois do banho, lá vai o Zé fazer os trabalhos.
- Mãe já fiz tudo.
- Ai, fizeste os trabalhos da tua irmã que já anda na Universidade.
Foi assim que todos descobriram: o Zé, de 7 anos, é sobredotado.

Ana Lucas


exercício das palavras obrigatórias - os seguintes textos publicados foram escolhidos a partir do exercício: escrever em discurso directo como um objecto (no caso, um sumo maçã/cenoura do Pingo Doce)

Virgem aos 40 (dias)



Olá!
O meu nome é SU-MU e moro no Pingo Doce da Calheta. Sinto-me um pouco solitário na minha condição de 100% natural porque o que está a dar é ser anti-natura, agressivo, selvagem, louco. As miúdas não gostam de suminhos certinhos, sem aditivos, corantes ou conservantes. O que elas gostam é daqueles que lhes enchem as medidas, em todos os sentidos. E isso não combina com algo politicamente saudável e que dá mais ares de ser medicinal do que apaixonante, prazeroso, guloso e pecaminoso até.
Sou 25cl de solidão, tenho falta de agitamento e, pela experiência dos meus semelhantes, sei que nasci para ser cheirado e deitado fora. E o mais triste é que depois de dia 17 de Março, já passei à história. Tenho os meus os dias contados. Por isso, tem piedade. Faz de mim, o que quiseres, mas por favor PROVA-ME! Põe-me na salada, num batido, ou até na tua máscara facial. Mas não me deixes morrer assim...Fechado, arrumado a um canto, como um cão sem dono. Já não vou a tempo de mudar a minha personalidade, por isso só posso contar com a tua amabilidade. Faz de mim o que quiseres. Faz de mim o teu Sumo.

Elizabete

És menina para tanto?

Até podes gostar da embalagem colorida ou do toque do cartão prensado de todos os outros, pobres coitados – que falta de carácter!... Do tamanho do boião daqueles mais pequenos, os que te perguntam se já bebeste fruta hoje e acham, com jeitos de convencimento, que quantidade e qualidade não são, como é óbvio, grandezas inversamente proporcionais. Podes apreciar o sabor daqueles, tradicionais, que começam por COM e acabam em PAL, com vitaminas, cálcio e adição de anti-oxidantes, frutos vermelhos e pepino, podes desejar ser o rei da selva em tons de ananás, tutti-frutti ou outra imitação qualquer. É provável ainda que seja tudo uma questão de palhinha – que, deixa que te diga, acho até meio gay. Mas 25cl de puro fascínio sou eu, o bom todos os dias, o espremidinho até ao tutano, o deliciosamente bebível e sem manobras de silicone. Botox? Não faço ideia do que seja – sou natural, estabilizado a frio por hiperpressão, sou o que cuida de ti golo a golo.
No sítio do costume? Sim, claro.

Susana
Olá, o meu nome é Sumo Natural Maçã Cenoura do Pingo Doce, sou um “raivólico”, e esta é a minha primeira reunião nos Raivosos Anónimos.
Tudo começou quando juntaram a maçã à cenoura. Já mais alguém reparou na cor originada pela junção entre a maçã e a cenoura? Não é vermelho, não é castanho, não é nada. É uma indefinição. A minha vida começou desde o início marcada pela indefinição. O passo seguinte na minha existência foi a estabilização a frio por hiperpressão. Mas alguém tem alguma coisa contra o Sr. Pasteur? Hiper? Pressão? Quem é que consegue desenvolver qualquer tipo que seja de personalidade com um peso destes às costas? Tenho um prazo de vida limitado, mas se me abrirem morro, de forma mais limitada ainda, em apenas dois dias. Como se isto não bastasse, carrego sobre mim o apelido Pingo Doce. Não podia ser um Apolónia, ou qualquer outro desses supermercados algarvios inflaccionados para inglês ver. Não. Pingo Doce. Venha cá. Sou um objecto a ser chocalhado, com o interior sorvido e o corpo deitado fora. A única coisa a que posso aspirar é um encontro imediato com os lábios da Soraia Chaves. Mas eu não sou light. A Soraia Chaves entra em filmes e por isso eu imagino que só beba sumos light. Na próxima encarnação quero ser de um castanho escuro definido e borbulhante. Vir numa lata luzidia e ter spots publicitários na televisão. Na próxima encarnação, eu, Sumo Natural Maçã Cenoura do Pingo Doce, quero ser uma Coca-Cola. Mas das light. Posso ter perdido a esperança em mim mesmo, mas ainda não perdi a esperança na Soraia Chaves.
Diana

Agitar antes de Ler

Há muitos sítios onde um Sumo Natural de Maçã-Cenoura, mesmo do Pingo Doce, pode ir parar. Na verdade, há MESMO muitos sítios onde um sumo, qualquer sumo, pode ir parar. Mas, acreditem, nada me faria imaginar que um dia poderia vir aqui parar. Não eu. Não um Sumo Estabilizado a Frio por, atente-se, Hiperpressão. Não. Hã-hã. Recuso-me a aceitar este destino. Mas estou calmo, muito calmo. Estranhamente calmo para quem se encontra numa situação destas. Afinal, não sou um Sumo qualquer. Sou da estirpe dos “Agitar antes de abrir”, a melhor espécie de Sumos que a humanidade já conheceu, parente afastado dos “Conservar no frigorífico depois de abrir” e nada a ver com esses “Deve consumir-se à temperatura ambiente” que andam por aí. Ok, sou do Pingo Doce. Não sou da Nestlé, da Compal, nem mesmo do Lidl, mas, caramba, sou um Sumo de 25cl bastante decente! E não mereço - estou bastante certo disto - servir de tema de escrita para duas mãos-cheias de iletrados! Que diabo, isto é gente que não sabe distinguir um sumo de fruta de um granizado! Mas a culpa disto tudo eu sei bem de que é... É deste aqui, mesmo à minha frente, com a boina da cabeça e a mania que sabe tudo. O que é que ele sabe sobre Sumos? Com esta pinta, aposto que é menino para beber galão de máquina ao pequeno-almoço e - blargh! - água mineral quando tem sede.

João Coelho

Carta de Despedida



Tinha quase tudo para ser feliz: mulher, filhos, uma boa casa. Morava há já alguns meses no corredor dos frios do Pingo Doce do Fonte Nova quando tudo mudou. Era uma quarta-feira e tinha acabado de ir levar os miúdos ao colégio das bolachas quando, a meio da prateleira, junto aos queijos, ouvi uma funcionária falar de uma reunião importante que envolvia o director de marketing e o director comercial. Algumas horas depois já a curiosidade imperava entre os sumos, iogurtes e todas as outras espécies. Na manhã seguinte, vinha desvendado o mistério na capa do Jornal: Pingo Doce tem nova publicidade.
O terror instalou-se, famílias inteiras ficaram destroçadas quando ouviram a nova música do pingo doce. De 5 em 5 minutos aquela melodia toca nos nossos corredores e deprime os mais sensíveis. Eu era um sumo feliz. Até suportava um prazo de validade tão curto, mas tiraram-me a qualidade de vida.
Adeus, meus amigos, partirei amanhã com a minha família para outro hipermercado em busca da felicidade.

Abraços,
Sumo de Maçã e Cenoura


Catarina Ribeiro

Porquê a Coca-Cola e não eu?



Aqui estou eu nesta prateleira horrenda a olhar para as bananas e peras, num corredor onde só passam as pessoas saudáveis. No corredor da fruta. Cheira-me mal e só pode vir do corredor de trás. Cheira-me a cafeína misturada com açúcar que sabe pela vida quando conjugada com um cheseburger. Não. Eu não sou desses que cai no pecado do fast food, que tem desejos de uma pizza à meia-noite ou que gosta de sair do restaurante a cheirar a fritos. Eu sou natural, 100% natural. Puro e duro. Sem aditivos. E quem é que não gosta, hum? Alguns. Aliás, muitos. Nem sabem o que me enerva o vermelho. Não porque sou do Porto ou do Sporting, mas porque é a cor do vestido dela. Dizem que era um xarope que entretanto se transformou em bebida. Acreditam? Balelas. Fico com a maçã irritada quando a vejo a passear nos cestos. Ri-se para mim, com um riso vingativo. Apetece-me sempre atirar-lhe com a minha fruta e com a fruta dos colegas do lado, mas não. Mostro-lhe a cenoura. Sempre com um ar superior. Sempre com um ar saudável. Dizem que os opostos se atraem, mas eu acho que nunca me apaixonaria por ela. Também dizem para nunca dizermos ‘nunca’. Mas eu digo o que me apetece e ninguém tem nada a ver com isso. Digo que não gosto dela. Digo que tenho orgulho em estar neste corredor. Digo que a juventude está perdida porque não pegam em mim. Digo que vou lutar com a minha cenoura para que todos percebam a importância de ser saudável. Digo à Coca-Cola que é sobre mim que 23 pessoas estão a escrever. Espuma-te de inveja, oh vermelhusca. Hoje ganhei eu.

Inês Carranca

ground zero

São 26 alunos, 20 e tal computadores, exercícios em todas as aulas, 4 sessões de 4 horas, uma por semana, alguma terapia, um ou outro papel e caneta, os dois sexos, todas as idades, muita conversa, coisas escritas no quadro de vez em quando, uma dúzia de ilusões e um prof. Este blogue serve para publicar os melhores textos produzidos nesta cadeira - na subjectiva opinião do dito cujo prof, claro. E também tem como objectivo espicaçar uma competição saudável, publicar gente pela primeira vez, fazer a vergonha desvanecer e chegar a uma plateia, por mínima que seja, bem como provocar discussões e um par de mortes. Bem-hajam.

Luís Filipe Borges