domingo, 28 de fevereiro de 2010

Porquê a Coca-Cola e não eu?



Aqui estou eu nesta prateleira horrenda a olhar para as bananas e peras, num corredor onde só passam as pessoas saudáveis. No corredor da fruta. Cheira-me mal e só pode vir do corredor de trás. Cheira-me a cafeína misturada com açúcar que sabe pela vida quando conjugada com um cheseburger. Não. Eu não sou desses que cai no pecado do fast food, que tem desejos de uma pizza à meia-noite ou que gosta de sair do restaurante a cheirar a fritos. Eu sou natural, 100% natural. Puro e duro. Sem aditivos. E quem é que não gosta, hum? Alguns. Aliás, muitos. Nem sabem o que me enerva o vermelho. Não porque sou do Porto ou do Sporting, mas porque é a cor do vestido dela. Dizem que era um xarope que entretanto se transformou em bebida. Acreditam? Balelas. Fico com a maçã irritada quando a vejo a passear nos cestos. Ri-se para mim, com um riso vingativo. Apetece-me sempre atirar-lhe com a minha fruta e com a fruta dos colegas do lado, mas não. Mostro-lhe a cenoura. Sempre com um ar superior. Sempre com um ar saudável. Dizem que os opostos se atraem, mas eu acho que nunca me apaixonaria por ela. Também dizem para nunca dizermos ‘nunca’. Mas eu digo o que me apetece e ninguém tem nada a ver com isso. Digo que não gosto dela. Digo que tenho orgulho em estar neste corredor. Digo que a juventude está perdida porque não pegam em mim. Digo que vou lutar com a minha cenoura para que todos percebam a importância de ser saudável. Digo à Coca-Cola que é sobre mim que 23 pessoas estão a escrever. Espuma-te de inveja, oh vermelhusca. Hoje ganhei eu.

Inês Carranca

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