terça-feira, 9 de março de 2010

JANINE, a Jane Doe do momento

perfil por Susana Rodrigues Alves
37 anos, nascida na tarde de 8 de Março de 1973. Verdadeiro nome no bilhete de Identidade: Maria do Rosário Francisco da Costa. 1.65m, 53 kgs bem distribuídos, silicone mamário colocado há 3 anos por alturas do mês de Março, tratamento de rejuvenescimento com botox nos lábios, sobrancelhas e área externa dos olhos há 6 meses, prepara-se para repetir a sessão de injecções. Cabelo curto, bastante descolorado e com franja para o lado esquerdo. Unhas sempre arranjadas, preferencialmente em tons de “sangue de boi” e rosa seco. Sinal de nascença em forma de trevo, de cor rosada, na omoplata esquerda. Tatuagem no tornozelo esquerdo também – fada pequena, discreta, rodeada de 7 estrelas mínimas (sendo o 7 o número da sorte de Janine), feita em Sintra no dia dos seus 25 anos (dia em que tomou ainda a decisão de parar de fumar, actividade esta que mantinha desde os 16). Ser anti-fumo é ainda um dos lemas de vida e mote que passa aos amigos sempre que encontra oportunidade.
Medicada com ritalina por sofrer de Síndroma de Tourette desde a adolescência, o que já a levou à cadeia por um período de 17 horas por ter, inadvertidamente, insultado um negro num centro comercial. É triste, depressiva e desanimada com a vida desde que percebeu que o seu quotidiano estagnou nos últimos anos. Abomina o marasmo e procura continuamente novas emoções. Faz alergia a manteiga de amendoim e sofre ainda de favismo, doença rara no sexo feminino mas que leva o portador a desenvolver uma crise hemolítica em casos extremos.
Profissão: administrativa na junta de freguesia de Massarelos há 16 anos. Casada em segundas núpcias e comunhão de bens com José Penalva de Aguiar da Costa, que a venera e a quem está a organizar desde há 3 meses e meio a festa de comemoração do quinquagésimo aniversário, que terá lugar dentro de 2 semanas. Sem filhos, devido a questão de infertilidade dele, descoberta já depois do casamento efectivado. Sem filhos também do primeiro marido, do qual se divorciou e que, entretanto, faleceu.
Escolaridade: 12º ano do antigo curso comercial. Formação adicional: estenografia, dactilografia e cozinha prática.
Nas horas vagas (e, por vezes, durante o horário de expediente, à sucapa), revendedora da Avon e da Tuppersex, a cujas reuniões assiste aos sábados de manhã e terças à noite de forma religiosa. Consta-se que é adepta fervorosa do uso de apetrechos sexuais e viu-se referida num escândalo envolvendo um dos vogais da junta de freguesia, um par de algemas almofadadas em pelúcia cor-de-rosa, vestuário pouco apropriado a uma dona-de-casa respeitável e uma máquina fotográfica manipulada por um desconhecido. Consequentemente, viu-se o marido na necessidade de desembolsar cinco mil euros para evitar que tais provas do crime fossem parar ao facebook. Depois de discutido entre ambos, o assunto ficou “esquecido” por acordo mútuo e em nome da imagem de um casamento sólido a manter socialmente.
Dilema do momento: abandonar o emprego na junta e candidatar-se ao curso de Formação de Locutores e Apresentadores na Universidade Lusófona em Lisboa, acalentando o sonho de miúda de ser estrela do prime-time televisivo nacional e de vir – pelo menos de segunda a quinta-feira – viver para a capital onde tudo acontece.
OU
Dilema do momento: na clínica de São Lucas, onde faz tratamento contra depressão diagnosticada recentemente, encontra Júlio Pereira Sarmento, médico anestesista destacado do Hospital de S. Francisco no Porto, e seu amigo de infância. Não sabe se há-de de uma vez sair de casa, deixando o marido e o emprego na junta de freguesia, mas calcula-se que seja esse o seu destino. Depois de um discreto e fugaz, embora por demais intenso, relacionamento entre ambos, que a fez sentir renascida das cinzas, descobre que está grávida e pondera aborto.

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