terça-feira, 9 de março de 2010

A ilha dos homens de coração cheio.


Exercício da inspiração em quatro fotos de Brayan, cubano, em Havana. Escolher uma e, sob pressão, escrever um texto do qual não constasse uma única vez a palavrinha maldita: 'que'.


Era como assistir ao genérico de um filme de gringos. Ali estavam eles, em silêncio, observando a ilha a ficar irremediavelmente mais distante, levando com ela as poucas coisas cuja propriedade podiam reclamar. O chão debaixo dos pés era agora o seu maior pertence. Tinham-se uns aos outros, claro, mas isso era algo com o qual sempre contaram. Desde tenra idade, era aquela a sua família. Quatro irmãos cuja necessidade de se tornarem, ora mãe, ora pai, era ditada pelas circunstâncias. Circunstâncias estranhas, aquelas cujo epílogo pareciam estar agora a viver. E o prólogo? Na verdade, nenhum deles sabia ao certo qual a origem daquele acontecimento. Certa parecia ser a inevitabilidade daquela situação. Certo seria concluir onde estaria, uma vez mais, o seu destino. Felizmente tinham-se uns aos outros e, apesar de não saberem onde, nem como tudo aquilo iria terminar, sabiam: o seu destino estava prestes a ser escrito. A oito mãos, como sempre.

João Nunes Coelho

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